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Personagens, estudo


v. Personagens tipo

index do verbete

X2008n Narratologia

142 Roland Barthes, além de retomar a importância que os clássicos davam à acção, avança ao afirmar que “não existe uma só narrativa no mundo sem personagens”. Aqui se entende personagem não como pessoas, seres humanos. Um animal pode ser personagem (Revolução dos Bichos), a morte pode ser personagem (As intermitências da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo podem ser personagens, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária.

Relevo das personagens

143 Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua actuação é fundamental para o desenvolvimento da acção.
144 Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da acção.
145 Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.

Composição

146 Personagem modelada ou redonda ou esférica: dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa.
147 Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolução, sem grande vida interior; por outras palavras: a personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a narrativa.
148 Personagem-tipo: representa um grupo profissional ou social.
149 Personagem coletiva: Representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só vontade.

Caracterização

150 Directa
151 Autocaracterização: a própria personagem refere as suas características.
152 Heterocaracterização: a caracterização da personagem é-nos facultada pelo narrador ou por outra personagem.
153 Indirecta: O narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou da sua fala, traçar o seu retrato.

X2008n Narratologia, outra parte

221 é um elemento vivo de uma obra narrativa. Comumente é uma pessoa (Dom Quixote), mas pode ser um animal (A revolução dos bichos), uma boneca de pano (Sítio do pica-pau amarelo) e o que mais a imaginação do artista inventar.
222 Existem personagens tanto em obras ficcionais como não-ficcionais, assim como o termo se aplica não apenas a literatura, como também ao cinema, teatro, dança, história em quadrinhos, etc. Em alguns casos, como na televisão ou no teatro, as personagens são representadas por um ator.

30 Tipos de personagem

223 Há diversas formas de classificar as personagens, algumas delas mais conhecidas entre o senso comum, outras academicistas. De qualquer forma não são classificações definitivas. Vejamos:

30.a Quanto ao protagonismo

224 Protagonista: a personagem principal de uma narrativa. Nas narrativas clássicas era comumente o herói, mas não apenas ele (vide Medéia, da tragédia de Eurípedes). É normalmente o Protagonista quem comanda a acção.
225 Antagonista: a personagem que rivaliza com o protagonista. Comumente é o vilão. A dicotomia herói e vilão foi muito bem trabalhada pelas histórias em quadrinhos (Super-Homem X Lex Luthor; Batman X Coringa; Omi X Chase Young, Harry James Potter X Voldemort).
226 Coadjuvantes: são as personagens em torno do protagonista. Pode-se dividir os coadjuvantes em “graus de importância”, criando novas categorias como o ajudante do herói (Sancho Pança, Robin). Alguns Coadjuvantes podem aparecer como meros figurantes, mas podem vir a ter importãncia no futuro da história.
227 Oponentes: as personagens que auxiliam o Antagonista.

30.b Quanto à relevância

228 Personagem principal: a narrativa é realizada em torno da personagem principal, sendo a sua acção determinante para o desenrolar da mesma.
229 Personagem secundária: outras personagens que actuam em torno da principal, sendo a sua acção importante para o desenrolar da narrativa.
230 Figurante: as personagens que não são importantes para o desenrolar da narrativa mas servem para a composição do cenário ou para uma interação esporádica com as personagens principal ou secundárias.

30.c Quanto a complexidade

231 Personagens esféricas: são personagens com capacidade de surpreender, mas de maneira convincente. Na literatura há uma profusão de personagens esféricas, especialmente a partir do romance, como Werther, Dom Casmurro, Julien Sorel e tantos outros. Personagem esférico é o personagem imprevisível, complexo, de grande densidade psicológica.
232 Personagens planas: são personagens que não mudam com as circunstâncias, sendo facilmente identificados. Muito comuns na comédia (Mr. Bean, Os três patetas).
233 Personagens tipo: alguns teóricos criam essa categoria que seria “inferior” ao personagem plano. São personagens de uma única função na narrativa.

30.d Quanto a existência real

234 Personagens “reais”: apenas em obras históricas, jornalísticas ou outras não-ficcionais uma personagem pode representar o mais fidedignamente possível uma pessoa real, como um presidente, um rei ou um atleta. O limiar disso é o jornalismo literário, inaugurado por Capote com A sangue frio.
235 Personagens “ficcionais”: a grande maioria das personagens, criados a partir da imaginação do narrador, ainda que alguns de seus traços sejam inspirados em pessoas da vida real.
236 Personagens “reais ficcionais”: as personagens de uma narrativa podem remeter a pessoas da vida real, sem necessariamente representá-los fidedignamente. Digamos que os caracteres provêm da vida real, mas as ações e gestos e pensamentos são ficcionais. A própria tragédia clássica representava mitos de deuses ou nobres que realmente existiram, “ficcionando-os”. Um exemplo contemporâneo bastante elucidativo - e polêmico - é o do filme A queda, em que Hitler é transformado em protagonista da ficção.

30.e Quanto a representação

237 Personagens únicas, próprias: a grande maioria das personagens, quando são únicas e diferentes, ou protagonistas de feitos únicos, merecedoras de que se conte sua história. Caso dos clássicos (Odisséia, Dom Quixote), dos românticos (Werther, Escrava Isaura), dos heróis (Sherlock Holmes, Batman).
238 Personagem coletiva: personagem que representa um tipo social. Sua existência individual ou as coisas que acontecem com ela não são diferentes de outras pessoas do mesmo grupo, e por isso a narração é mais uma representação social. Muito comum a partir do realismo/naturalismo (O Jogador, Vidas Secas). Em Morte e Vida Severina, por exemplo, o Severino representa não apenas ele próprio como tantos e tantos retirantes nordestinos.
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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